domingo, 30 de novembro de 2008

Segundo Sonho

Sonhei com você outra vez. Posso acrescentar mais uma noite naufragada na minha própria existência. Essa vai para a estante de Não Achados e Perdidos. Agora fica notável eu não querer lembrar de ti? Porque quando eu me lembro que jamais te vi na minha frente, jamais senti o teu toque, o que eu quero evitar é ter esperanças para que isso aconteça um dia. Não que eu queira não te querer, mas o que eu quero é apenas não ter que querer alguém que não me queira. Se for platônico, que continue sendo. Mas desejo arduamente - para o meu próprio bem - que não seja real. Até porque, se existe algo na minha alma que procura me dizer algo quando sinto sua falta, o que é entoado é 'Não'. E então para meu próprio refugio, minha mente se entorpece em te por em meus sonhos. Consegue sentir a ironia?

Prefiro uma madrugada insone ao lado de qualquer parede do que um sonho idealizado de você ao meu lado. Tudo o que eu quero é ser feliz. Talvez seja fácil, talvez jamais aconteça. Quem sabe até já aconteceu. Mas sonhos noturnos não significam felicidade, tampouco quero acordar estonteante por ter abraçado alguém que na realidade jamais abracei. Eu devia saber que quanto mais tento tocar o céu, mais as nuvens se distanciam. Não é por pular, não é por tentar, não é por voar, nem é por conseguir. É porque é o curso natural das coisas. É por não querer.

Será que algum dia as pessoas vão perceber que é quando não queremos alguma coisa, é a hora que então tudo dará certo para que a tenhamos? É uma das leis. Ainda assim, é questão de virar as costas. Se for pra correr atrás que seja atrás de si mesmo. É não seguir as leis, é seguir a sua vida, é seguir o seu destino, é simplesmente seguir. Porque ficar deitado esperando o tempo passar, e o seu destino correr, te trará como felicidade apenas o velho sexo, drogras e rock'n roll. E o caminho da perdição é logo aí. Perder alguém que você não possui não fragmenta uma pessoa, mas se ela não tiver cautela, a partir daquele momento ela pode começar a perder a si mesmo, nem que para isso ela tenha que se deixar cair numa noite qualquer e simplesmente deixar-se sonhar...

domingo, 23 de novembro de 2008

Escuro Âmago

Você não suporta a pressão que há entorno de si mesmo. Te tormenta saber que ao sair de casa terá que encarar nada mais que o vácuo deixado por seus próximos passos. Saber que a linha do horizonte que enxergas, mostra apenas dois andares acima do que você realmente vê. E isso é o que te afugenta. É tudo o que te restringe à permanecer. Tem o medo sucumbido dentro dos próprios olhos. E ainda assim, procura demonstrar a frieza no semblante e a cautela na fisionomia. Mas no fundo, só Deus sabe o quão escuro é o teu interior. Escuro não por causa da tua consciência, escuro não por causa do teu afago, mas por se esconder no teu abrigo afim de não deixar-se entregar completamente. Talvez você seja uma pessoa boa. Eu creio nisso. Apenas creio, e digo que deve ser porque eu jamais o vi sendo.

 Algumas vezes eu sinto tua falta. E sou levado às pressas pelas minhas lembranças. Ano de Dois Mil e Sete. Tantas coisas, tantos lugares, tantas pessoas, tantas conversas, tantas lembranças. Eu poderia me lembrar de cada detalhe, cada momento, cada simples olhar. Poderia. Mas há algo dentro de mim que me impede de fazer isso. Deve ser a mágoa, o despedaço. Muitas coisas que ficaram e que foram jogadas, talvez a maioria nem deva ser lembrada. Ignoro-as. Sei que existem, mas também sei que já as superei.

 Éramos livres pela forma como (con) vivíamos. Liberdade encarada na saudade e na dor. Dor de olhar, dor de sentir borboletas voando no estomago. Dor inconseqüente. Dor de não poder voltar e sentir mais um pouquinho de dor. E entre a livre e espontânea vontade que nos foi permitida, dor era o que mais reagia ao nosso desejo. Só que tudo passou. Ano de Dois Mil e Oito, prestes a Dois Mil e Nove. Cada um em seu lugar, no seu elo de liberdade, na sua fragilidade de ainda não saber demonstrar o que ficou. E compreendo agora que nos teus olhos, ainda que haja o medo sucumbido dentre eles, só no teu escuro âmago podes demonstrar o quanto dói sair de casa e ter que encarar nada mais que o vácuo deixado por seus próximos passos. Sozinho.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Espectro de Irrelevância

Esmago a dor alheia com a indiferença que me é dada. Sinto o privilégio de sentir essa dor. Não é como esperar por tudo e apenas querer o bom. É experimentar cada pedaço, ser exposto a cada influencia, e sofrer a ação de qualquer um que tente te alterar. É chegar a passar pelo lado ruim e terminar. Silêncio. Terminar? Sim. Alguém deve ter se esquecido de te dizer que quando caímos é para que possamos aprender como melhor levantar da próxima vez. Alguém deve ter se esquecido de te dizer que quando o Acusador se levanta, é para que seja derrubado de novo. Você sabe, você sabe... Não, você não sabe. E é apenas a sua alma que está em jogo.

 Encontro todos olhando para fora, por fora, e de fora; alguns fecham as janelas para não se chocarem com o que está crucialmente torpe, desagradável, rudemente feio lá fora. E na realidade, é tudo o que há. Da forma como vemos, tudo se resume àquilo. E a batalha está aí. Em mais um dia cinza-claro, com todo o dilema do dia anterior acontecendo uniformemente. Você disfarça. Vira as costas e vai embora. Parece que é suficientemente corajoso para ir atrás daquilo que possuía antes, quem sabe a felicidade. Mas como disse, apenas parece. Porque a tua abstinência da própria vida, de como foge de todos os teus embaraços, da imprudência de pouco se importar e se pôr a frente de si próprio é o que dói. Dor que corresponde à compaixão, pena.

 Quando se olha no espelho não se sente indigno de possuir uma vida? Digressivo, se esmagando sem tocar. Mas eu sinto esse privilégio, eu sinto o silêncio. Enalteço. Porque é degradante conhecer pessoas que simplesmente existem. Existência pacífica. Existência figurativa. Existência mórbida. Inexistência. Alguém deve ter mesmo esquecido de te dizer muitas coisas. Sobre quem você é. Sobre a vida que você tem. Sobre a vida que você simbologicamente vive... E pensando melhor, o que esmago não é a dor alheia que ressurge na tua indiferença. Porque isso nem me toca. Mas é a forma que você encararia ao descobrir que esse Alguém que te escondera toda uma vida feliz do seu próprio lado, não tivesse sido ninguém menos que Você.

Sente o privilégio? Porque agora, a dor é somente tua.

sábado, 15 de novembro de 2008

Crepúsculo

Ás vezes eu me deparo observando o sol nascer, as nuvens ao redor, fragmentadas ao fundo, em tons gradientes poetizando a aurora. E então percebo que estou sozinho ali. Perco-me em meio ao que devo fazer. Sinto-me preso àquela sensação de perda, de abstinência. Tento suprimir a falta desse algo que substitui várias coisas em mim, principalmente meu tempo para pensar. É o momento de se fazer algo. Talvez voltar para a minha habita rotina. Retroceder e ir. Voltar e ceder. Perdurar, permanecer. E por mais que eu sinta a dor da monotonia, o que se segue a partir daí é somente a crescente nostalgia.

 Quem sabe se talvez eu tivesse uma válvula de escape entorno de mim, creio que eu já teria puxado-a. Porque antes eu deixe que os cacos se estilhacem diante dos meus olhos, e me ceguem; do que eu permita que esses mesmos olhos soltem uma única lágrima ao verem aquelas almas sendo tomadas e caminhando perdidas. O que ostenta essa razão, esse misto de sentimentos, é o que deturpa a vontade que eu tenho de ajudá-las. O nome disso pode ser saudade, medo... Ou um triz de esperança. O que eu espero? Espero ouvir os velhos timbres que me equalizaram desde o dia em que caminhamos juntos. Espero saber o que fazer quando isso acontecer. Espero que algum dia ainda aconteça. Espero que juremos nunca mais nos separar. Espero não esperar demais, antes que nada mude e tudo continue na mesma. É o que espero.

E como se eu estivesse disposto a restituir, sem eloqüência, sem distinção, ou até mesmo evitando a inadimplência de culpa, eu ainda estaria sentindo o quanto eu perdi. Talvez o bastante para eu pensar várias e várias vezes a possibilidade de, quando a saudade bater, numa madrugada insone qualquer, eu puder ou não ligar para algumas dessas almas, e dizer "Foi muito bom ter conhecido você. O bastante para agora eu estar sentindo tanto a sua falta. 21 Dias" e então quem sabe, "Adeus." Espero que eu não me arrependa de fazer isso. Porque eu sei que depois disso, o tempo vai passar todo em câmera lenta, apenas para que eu sinta cada partícula de mim se esvair. Apenas para que eu reflita sobre cada palavra dita. E lentamente até que reste somente a doce sensação da brisa, eu vou abrir os meus olhos e diante deles a única coisa que conseguirei enxergar vai ser a luz do sol nascendo, e todas as nuvens se fragmentando em tons gradientes.