quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cada um

Cada um se entrega a alguém atribuindo a isso o que julga sentir. Cada um se usa antes de se entregar a alguém que espera ser somente seu. Cada um dá um passo a mais com medo de ter de esperar por muito tempo. Cada um se percebe quando se vê caindo. Cada um foge quando não consegue mais encarar suas decepções. Cada um suporta a dor do próximo quando esta não lhe faz companhia. Cada um se decepciona ao tentar fazer do outro alguém que lhes sirva de agrado e não obtém resultados. Cada um se perde em busca de alguém. Cada um se repara quando todos que estavam perto se vão. Cada um se arrisca quando o que não está tão longe pode ser alcançável.

Cada um se arrepende quando se sente desperdiçado. Cada um se cansa do que pode ser difícil. Cada um joga da forma como se encontra. Cada um nunca se entrega totalmente por medo do fracasso. Cada um evita recomeço para não ter de encarar o início novamente. Cada um estranha as diferença de valores dos outros. Cada um se suja mais ainda com o mesmo que poderia se limpar. Cada um teme acordar um dia e não se encontrar. Cada um não se conhece a ponto de chegar a acordar um dia. Cada um pensa saber usar o que está para vir do que com o que já tem. Cada um finge não saber a direção quando anseia ser encontrado.

Cada um faz promessas a alguém como se nada pudesse mudar algum dia. Cada um se assegura de estar bem quando nada muda. Cada um teme o erro enquanto este pode lhes ensinar a acertar. Cada um é como a rota de um carro andando em círculos. Cada um se ilude. Cada um se vangloria quando o acerto é contundente. Cada um é estável até o momento do choque. Cada um quer ser encontrado por alguém. Cada um quer ser alguém. Cada um se pergunta se é feliz, se é amado, se é alguém para alguém...

domingo, 10 de maio de 2009

Encontrado

No fundo, ele era um cara como outro qualquer, isso era o que as pessoas diziam umas às outras sobre ele, e também o que ele acreditar ser. Alguém que experimentou e passou por muitas pessoas, anseios, arrependimentos, sonhos previamente realizados, mas era insatisfeito, era e estava perdido. Ser ignorado no meio de uma multidão não era o bastante para se sentir oprimido, nada era suficientemente o bastante para tal. Bastava ter a si mesmo para se sentir bem ou não. Ele era o tipo que não sabia se sentia a falta de alguém, não era o tipo que esperava nem que procurava, mas que pensava que um dia iria encontrar...
Anoitecera, estava andando sozinho, às nove e meia da noite, voltando de um lugar qualquer. Apenas andava, sem se preocupar como andava, se desviava ou se estava rápido demais à cada passo, à cada vez que respirava, e à cada segundo, e o que importava era apenas continuar. Desviou seu olhar para a rua adentro, e poucos segundos depois percebeu que dentro de um carro o motorista lhe acenava. Enquanto o carro estava sendo estacionado mais a frente, já num lugar mais escuro e afastado, ele fora ao encontro do desconhecido. O olhar enigmático e frisado que tal sujeito lhe faz serve para lhe assustar, não o susto de medo ou aflição, mas o que questionava "por que não?". E antes que pudesse proferir qualquer palavra, o motorista diz ter o confundido. Ele sorri atônito e começa a caminhar fora dali, o motorista lhe chama de volta. Ele não volta, começa a correr. O motorista acelera o carro. Ninguém entenderia o que aconteceu naqueles instantes. E se questionou inúmeras vezes a razão de ter sido encarado por tanto tempo, e se tinha algum valor para o desconhecido. Não sabia, e se arrependeu de ter corrido e perdido a chance de descobrir. Então, antes que imaginasse, ele está de frente ao seu perseguidor, mais uma vez, e descobre o que tinha sido aquilo. Descobre que se chama sentimento, e então novamente se assusta. Ele estava por aí, com alguém que parecia querer lhe sufocar, tirar, extrair, desviar, no entanto o verbo verdadeiramente certo era estar. Então se questionava sobre o que queria, o que devia, o que podia, mas o mais importante e verdadeiro foi o que de fato sentia. E sentia que devia ficar, ficar não para ver até onde isso ia dar, mas por ter a chance de ser feliz de verdade com alguém que lhe encontrara.