terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Luz

No Natal, surge uma luz em cada um de nós que anseia por um abraço, por uma voz que nos diga sim, por alguém que nos ouça, por um vento que nos ajude a caminhar, por uma mão que nos levante se cairmos no caminho. Uma luz que nos une, seja para compartilharmos o pão de cada dia ou para desejarmos bons sentimentos uns aos outros.

E neste dia, em que Jesus nasceu como uma criança pobre mesmo sendo o filho de Deus, viveu humilde até o fim de sua vida, nos deixando a maior prova de amor da sua existência: deu sua vida pelas nossas vidas. Para fazermos a diferença, vivermos e amarmos como ele.

Por isso, no Natal, Jesus nasce novamente em cada um de nós. Para mostrar que dinheiro não compra as pessoas que amamos, para mostrar que os melhores presentes são as presenças dessas pessoas. Para então descobrirmos que não é necessário mostrar a beleza aos cegos, nem dizer a verdade aos surdos, mas nunca mentir para quem nos escuta e nem decepcionar a quem nos ama. E principalmente, porque o melhor presente que podemos ganhar não apenas no Natal, mas em toda nossa vida, é esta luz que surge em cada um de nós, o amor.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Maio

Ninguém vai me levar para casa. Eu poderia partir sem ir a lugar algum. Mesmo não indo. Fechando meus olhos e caindo no sono, num sonho em que eu caio de braços abertos mesmo lembrando que aqui eu não poderia voar. Porque não posso voar, como disseram que ninguém poderia. Ainda assim eu sonho em poder cair, como se me fosse dado a chance de saber que a queda e o voo estão me esperando. Que pode haver uma coexistência. Embora não acreditem e eu apenas continuasse a cair.

No que me restava encontrar à frente, o compasso passava intempestivo. Passava-se pelos meses e parou-se em Maio. Se em poucos segundos atrás eu caía, em menos tempo ainda eu abrira os olhos. Enxergava a escuridão a minha volta como uma luz cintilante que me trouxera de volta a casa. Isso me fizera sentir a sinestesia que meu cerne descoberto tentava abrigar-se, embora eu pudesse continuar a por em exposição, dentro de mim eu gritava por um toque da minha resignação em seu primeiro nome, Queda.

Sobrevivi conseguindo sorver a doce sensação da queda sem sentir o velho frio na barriga que me sorvia. Eu estava lá, pronto para desacertar, sem nada em mãos, e os desacertos me esperavam prontos para me reparar daquilo que eu imaginava ser meu limite, o chão. Se meu voo fosse meu desencanto, da queda à Maio, estaria eu me oferecendo a acreditar nisso, embora eu já estivesse caindo, e apenas acreditando que ninguém poderia me levar para casa.

"Por algum tempo, eu transitei em estado de alerta. Eu pude ver que, diante de cada um de nós, em seus meus maiores desacertos, ante a expansão que nos faz crer que somos maiores do que somos, somos apenas sobreviventes do nosso próprio impedimento."

domingo, 9 de agosto de 2009

A Porta

Eu tentei decifrar um sonho até entender que isto não tinha um nome, que era e que ia sendo assim. E que quando eu olhava para dentro de mim, eu saberia que eu não precisava me olhar para saber quem eu era. Mesmo que a maré subisse até meu pescoço, não haveria certeza de nenhum outro lugar, apenas que eu não estava ali. Não eu. Em poucos segundos eu caía, levando a vida adiante como um verme, e ia dizendo adeus, e pensando em concertar, mas continuando a correr. E caindo por toda parte. Cada prece como a mesma da noite anterior, eu precisava de mim e me entregava as costas. E eu sentia novamente a falta de alguém, algo. Eu estava perdendo a minha religião, perdendo a minha profundidade.

Deixando se definhar por pedaços de alguém que eu conhecia. Alguém que acreditava em si mesmo e que com poucas palavras ficava bem. Conceitos que viraram sussurros melancólicos. A verdade é que alguém assim não morre, se esconde por medo de não ser capaz, de não ter voz. Abraçando-se com a escuridão até que todas as cores façam uma única cor. Se fizerem. O abstrato tornando a vida passageira à essência curadora do que seja viver. Como se houvesse algum sentido em minhas palavras, em outras palavras, eu estava bem.

De mim eu ainda tinha a ocasião. Se algo se ausentou em mim é porque eu estava trancado do lado de fora. Talvez eu não perturbasse ao entrar, eu nunca soube antes. Talvez assim fosse meu jeito. Pois meus olhos caídos não representavam em si a fiel certeza dos meus próximos passos, representavam a calmaria dos meus pensamentos em resposta às provocações que eu vinha sofrendo. E o que eu quero dizer é que eu precisava estar lá, mesmo que me impedissem. Eu não estava pronto para saber se estava pronto, eu sabia somente que estava nisso. E minha força não estava na minha devoção não dada, na minha selvageria paralisada ou até na minha falsa inclinação, estava além do que sou. Fui destinado a abrir a porta pela qual eu posso me libertar, embora difícil não seja encontrar a porta certa, seja me encontrar em uma.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sentir a si mesmo

Nego a minha existência porque nego o privilégio de sentir. Pela noite, o pânico que se instaurou no meu peito assim que cedi os meus pés às ruas foi o único sentimento que pude me dar. Por inteiro, se assemelhou a liberdade resguardada, jamais fielmente sentida. Senti-lo sem medo me trouxe alivio. Assim o verbo se fez vivente na minha cabeça e fazer seu parto foi o que me rasgou por dentro. Por fora já estavam estacionadas as expressões cicatrizadas, ocupando a maior parte da minha face. Meus olhos não se deixaram enganar. Abortar o verbo seria enxugar os resquícios dos sentimentos que por sacrilégio já não me dei.

  Como uma criança fica sem reação diante de algo desconhecido e reluzente, meu desconhecimento foi com o que foi me dado. Ou se roubaram e deixaram para mim por não haver mais pra quem. A minha prece tem sido a mesma desde então. Não olho nisso com medo da cegueira. No meu álbum de sentimentos o medo faria figura presente, seria figura repetida, se eu o fizesse meu. Se eu o pousasse no seu reservado lugar. E se isto eu fizesse, cada outro espaço vazio continuaria vazio. Corrói a dor de não sentir o que se sente e apenas o que se deixa. 

Ter-me de mim para mim se tornou martírio. Desafio-me a cada tragada de ar. Suprimindo a falta de uma mortal salvadora pela própria razão da falta: existir e deixar-se duramente sentir o indesejável. E eu poderia, embora em poucas palavras, acreditar que insensível é aquele escolhe não sentir o que lhe dão, embora seja em verdade, aquele que por já sentir a dor de sentir-se se reserva mais para si. Pelo medo de deixar-se perder.

Com crueza no ato, naquela noite, eu sorri para a cólera, à decepção, o arrepio, o medo, à paixão, à inveja, e até para o abraço oferecido de uma criança que rejeitei sem sentir coisa alguma.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cada um

Cada um se entrega a alguém atribuindo a isso o que julga sentir. Cada um se usa antes de se entregar a alguém que espera ser somente seu. Cada um dá um passo a mais com medo de ter de esperar por muito tempo. Cada um se percebe quando se vê caindo. Cada um foge quando não consegue mais encarar suas decepções. Cada um suporta a dor do próximo quando esta não lhe faz companhia. Cada um se decepciona ao tentar fazer do outro alguém que lhes sirva de agrado e não obtém resultados. Cada um se perde em busca de alguém. Cada um se repara quando todos que estavam perto se vão. Cada um se arrisca quando o que não está tão longe pode ser alcançável.

Cada um se arrepende quando se sente desperdiçado. Cada um se cansa do que pode ser difícil. Cada um joga da forma como se encontra. Cada um nunca se entrega totalmente por medo do fracasso. Cada um evita recomeço para não ter de encarar o início novamente. Cada um estranha as diferença de valores dos outros. Cada um se suja mais ainda com o mesmo que poderia se limpar. Cada um teme acordar um dia e não se encontrar. Cada um não se conhece a ponto de chegar a acordar um dia. Cada um pensa saber usar o que está para vir do que com o que já tem. Cada um finge não saber a direção quando anseia ser encontrado.

Cada um faz promessas a alguém como se nada pudesse mudar algum dia. Cada um se assegura de estar bem quando nada muda. Cada um teme o erro enquanto este pode lhes ensinar a acertar. Cada um é como a rota de um carro andando em círculos. Cada um se ilude. Cada um se vangloria quando o acerto é contundente. Cada um é estável até o momento do choque. Cada um quer ser encontrado por alguém. Cada um quer ser alguém. Cada um se pergunta se é feliz, se é amado, se é alguém para alguém...

domingo, 10 de maio de 2009

Encontrado

No fundo, ele era um cara como outro qualquer, isso era o que as pessoas diziam umas às outras sobre ele, e também o que ele acreditar ser. Alguém que experimentou e passou por muitas pessoas, anseios, arrependimentos, sonhos previamente realizados, mas era insatisfeito, era e estava perdido. Ser ignorado no meio de uma multidão não era o bastante para se sentir oprimido, nada era suficientemente o bastante para tal. Bastava ter a si mesmo para se sentir bem ou não. Ele era o tipo que não sabia se sentia a falta de alguém, não era o tipo que esperava nem que procurava, mas que pensava que um dia iria encontrar...
Anoitecera, estava andando sozinho, às nove e meia da noite, voltando de um lugar qualquer. Apenas andava, sem se preocupar como andava, se desviava ou se estava rápido demais à cada passo, à cada vez que respirava, e à cada segundo, e o que importava era apenas continuar. Desviou seu olhar para a rua adentro, e poucos segundos depois percebeu que dentro de um carro o motorista lhe acenava. Enquanto o carro estava sendo estacionado mais a frente, já num lugar mais escuro e afastado, ele fora ao encontro do desconhecido. O olhar enigmático e frisado que tal sujeito lhe faz serve para lhe assustar, não o susto de medo ou aflição, mas o que questionava "por que não?". E antes que pudesse proferir qualquer palavra, o motorista diz ter o confundido. Ele sorri atônito e começa a caminhar fora dali, o motorista lhe chama de volta. Ele não volta, começa a correr. O motorista acelera o carro. Ninguém entenderia o que aconteceu naqueles instantes. E se questionou inúmeras vezes a razão de ter sido encarado por tanto tempo, e se tinha algum valor para o desconhecido. Não sabia, e se arrependeu de ter corrido e perdido a chance de descobrir. Então, antes que imaginasse, ele está de frente ao seu perseguidor, mais uma vez, e descobre o que tinha sido aquilo. Descobre que se chama sentimento, e então novamente se assusta. Ele estava por aí, com alguém que parecia querer lhe sufocar, tirar, extrair, desviar, no entanto o verbo verdadeiramente certo era estar. Então se questionava sobre o que queria, o que devia, o que podia, mas o mais importante e verdadeiro foi o que de fato sentia. E sentia que devia ficar, ficar não para ver até onde isso ia dar, mas por ter a chance de ser feliz de verdade com alguém que lhe encontrara.

sábado, 18 de abril de 2009

Introspecto

Ele se sentia congestionado. Asfixiado não pelas emoções aprisionadas no peito ou paralelas às tensões não expulsadas da cabeça, mas à deriva da sua capacidade de controlar seus sentimentos e cansado de carregar a si mesmo durante tanto tempo. Não estava conseguindo andar nem livre quanto menos levemente, nem disposto a mudar mais uma vez. Talvez não houvesse mais espaço para ele dentro de si mesmo. Sentia-se desolado, amava-se mas não correspondia-se, não da forma como pudesse sentir-se salvo ou livre. E sempre esteve à procura disso, do intangível, talvez intocável, mas pura e completamente essencial. Enquanto caminhava, sussurrava alguma coisa, e olhava para algumas pessoas, não à procura de algum olhar que cruzasse com o seu, mas apenas analisando o desinteresse recíproco que cada olhar transbordava. Fosse naquela rua ou no restante do mundo. Mais uma vez, era apenas isso que anotaria no velho caderno que escrevia sobre sua vida em todas as noites que não conseguia controlar o peso da alma. E o crucial também era o que latejava em sua cabeça, o fazendo reviver velhas histórias das quais lembrava ter sido ora ou outra realmente feliz. E através disso, logo vinham sacrifícios, alternativas, gestos fora do comum para não perder os momentos em que podia ser feliz, aproveitando a intensidade e não a duração. E não importava quem estava ao seu lado, ainda havia os sorrisos que vinham como videoteipe. Tudo começava do medo, do resto, da falha. Abatido e equivocado, sua existência era marcada pela desilusão na busca de si mesmo, na compreensão do novo, e talvez à procura de quem fora algum dia. Porque o sol nasce para todos, mas nem todos precisam de luz, apenas uma incidência para que seja visível isto. E isto, era o que passava por sua cabeça. Mesmo que os olhos não possam conter uma lágrima, e se ludibriar seja a escapatória, ele compreendia as razões de não ser como qualquer um. Estava dentro demais, fora demais, qualquer coisa que subisse qualquer grau de limite. Estava no limite de si mesmo. Não no auge, porém no culminante. Pouco a pouco para encontrar qualquer coisa que não precisasse ter, e ser era demais para se completar. Naquele velho caderno, na última pagina, acabara de escrever algo. Encontrar a si é o mesmo que ser feliz. Fechou os olhos e sorriu estranhamente. 

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ela sabia

Quis desaparecer. Se entregar a qualquer coisa, menos ao que podia ver. Era demais, era significantemente bom demais pra ser demonstração de alguma outra realidade que vivia. Então se questionara se era certo agir assim, pois toda vez que alguém a elogiava, ela fugia, tentava mudar a causa que ditou as boas palavras. Mas ansiava, sim ansiava muito, encontrar alguém e algo que a sustentasse. Não o sustento físico, mais o incorpóreo. O que podia deixá-la ser livre, de bem consigo mesma. E pra encarar o que havia visto, tentava rejeitar, tentava fingir que não era com ela. E repetia isso vezes e mais vezes, até quando conseguisse acreditar em suas falsas articulações. Queria acreditar num mundo cruel, queria fazer drama, queria ser qualquer vítima, até chegou a pensar em se jogar, sem poder se agarrar a nada. Nada que a sustentasse. Mas ela sabia, sabia sim. Sabia como era tão contraditória, e que sua vida - novamente não no sentido físico, nem corpóreo - estava num precipício, agarrada apenas à uma flor que a qualquer instante iria desprender-se da terra e deixaria que caísse. E cair, para ela, podia ser bom, podia ser cruel, podia ser fictício, podia até ser nada, mas era tudo. Naquele instante, era tudo o que realmente valia a pena vivenciar. Eram suas emoções. E isto, era tudo aquilo que a motivava a querer desaparecer. Simplesmente porque o precipício era o amor. E em sua cabeça, ela tentava ignorar as formas estranhas que este sentimento podia incapacitá-la de continuar com sua ordinária vida. E ela sabia disso. Sabia porque sentia, e sentia que uma hora ou outra, ela não iria resistir mais. Pois em seu rosto apenas transparecia uma emoção difícil de explicar. Ela então apenas sabia, sim, e sentia... Foi se entregar, ao que antes evitava.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Algo entre nossos Olhares

Tenho algo preso à garganta, uma estremecida vontade de te dar a mão e te ajudar a levantar desse chão. Mas há algo que me impede de chegar próximo a você, e é algo não vem só de mim. É algo que se repousa sob seu olhar, ao menos quando eu os encaro é neles que vejo isto que falo. E isso é o que me distancia de você, essa sua ação, então mesmo que eu não perceba, me afastar é a minha reação. Não quero delirar por hoje, mas seus olhos não parecem mentir. Eles é que me aproximam, eles é que fogem de mim, então eu os procuro e quando os encontro, é neles que eu me perco. Mas então você parece ser outra pessoa, detentora de outro olhar. E isso me causa profunda confusão, se eu devo chegar ou se devo jamais tentar dizer algo que também me aprisiona. Eu vejo algo entre nós que se chama medo.

Eu não sei o que vai acontecer de agora pra frente, não sei se seria bom acontecer. Eu já esperei tanto, já até me decepcionei sem nunca termos trocado uma sequer palavra. A verdade é que eu não te conheço, nem um pouco. E esse meu desejo é formado por elementos que eu mesmo já conheço, como quando te vejo só, como quando te vejo distante e diferente das outras pessoas ao seu redor, e eu me pergunto se é certo eu te querer se nem o meu bem você pode querer. Mas é o risco, é a cerca. Basta apenas cada um de nós decidir quando pular para o melhor lado. Porque parece que continuamos entre tudo o que possa existir entre você e eu. E entre tudo é muito para agüentarmos por muito tempo. Seja o amor, seja a dor, seja lá o que for. E se eu tivesse coragem para chegar até você e você tivesse coragem para apenas escutar, eu fixaria meus olhos aos teus e indagaria em seu ouvido: Qual é o seu medo?

domingo, 5 de abril de 2009

Por um Instante

Se você pudesse, ao menos por um instante, ser eu, você perceberia a falta que isso me faz. Enquanto a loucura tenta se apossar dos meus pensamentos, e meus sonhos se afastam de mim por causa do meu escapismo às coisas mundanas. E depois a dor do arrependimento se torna algo que vem à noite me causar medo, mas que me leva a ansiar por mudanças no dia seguinte. Para isso eu escrevo, sempre, agora, aqui. Para que se você soubesse tudo o que sei, e tivesse passado por tudo o que passei na minha jovem vida, você entenda a razão de eu caminhar calado e sozinho sem olhar para trás.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ser livre

Procuro uma razão para me entregar ao acaso, ser alguém livre de toda falsa liberdade. Ousar encontrar a glória da minha própria forma, sem desviar dos tropeços, estes que me detém do tempo enquanto o trivial e o temporal se escondem. Como se tivessem medo, como se existisse algo além do que eu estava procurando não encontrar. É loucura, pare. Se perder não é como perder tudo, mas a segunda liberta. E afago a sensação perdida de declínio, ao elementar, ao desnecessário... Até quando? Nada e tudo tão iguais para mim. Esta noite não parece ser a noite certa, mas é a que eu quero tentar não errar. E errar é saber o certo e não o fazer. Se então eu tivesse sido deixado desconstituído e inconformado, futilmente abalado, logo aqui estaria eu... Deixando que esta deixa fosse o âmago em êxtase. Eu não reaveria o que perdi, mas começaria algo que não deixei de ter. A tal da falta, a melodia da alma. Não tenho tempo para temer o erro, nem de me perder, é inevitável. Não estou querendo que a falta substitua a falha, mas aqui estou eu. E caminho lentamente, chegando até a rastejar, mas lá estou eu, apenas à procura de uma razão, uma única, para que eu não seja encurralado pelo meu medo de ser ou estar. Para que se houver, que este meu declínio sirva de alguma lição e mude o caminho de alguém que também está procurando, ou então para que minha intenção seja intrínseca. Não vejo medo, erro, falta, não vejo mais sentimento. Penso estar desprendido de qualquer ideal de liberdade que o homem anseia dia e noite em possuir para si. Não tenho muitas certezas, mas sei de algo. Sei que nesse exato momento, sinto-me estranhamente livre.

sábado, 7 de março de 2009

O fim

A verdade é que algum dia você vai descobrir todas as minhas cartas debaixo do seu tapete, e vai conseguir entender que todas elas não eram para outras pessoas senão para você. Então ficará confuso, se sentirá perdido no seu próprio abrigo e vai querer entender as razões. Será tão rápido pra você como já está sendo pra mim nesse instante. E eu não estarei em mais alguma outra carta, não serei o remetente de nenhuma outra senão desta última, desta que escrevo não como forma de desculpas ou de agradecimento, mas como forma de ter aprendido a ter controle próprio. E repito: está é a última. Deixei de querer tanto, por apenas sentir; deixei de sentir por tanto querer-te; cansei de me perder nessas suas palavras astutas e maduras, cansei de enxergar com as minhas palavras, porque essas são as que me cegam; cansei de definir o que eu sinto, e de ficar me encobertando, se de fato você desconhece ou prefere ignorar isso que ‘acontece’ comigo. Não é fácil dizer eu quero você de todas as formas possíveis, pois pra mim já se tornou improvável tentar de novo. Eu que esperei demais por isso, agora me afasto de qualquer forma de manifestação que esse sentimento possa tentar desmoronar através dos meus olhos. Fujo desse sentimento selvagem e arrebatador, dessa peripécia que tenta me encurralar a cada vez que tento fugir. Não tenho mais argumentos em relação a isso. Já desisti de muitas pessoas que ostentei, mas você me frisou. Lembro de quando eu pairei meus olhos sob os seus, parecia tudo em câmera-lenta, ganhando forma e cor. Ainda assim senti o teu cheiro, eloqüente e distraído. A partir dali, eu saberia que nada como um dia após o outro não seria suficiente para que eu conseguisse te esquecer. Você conseguiu estar na minha cabeça, assim como esteve em meu coração. Mas esta é a carta de despedida. De algo que surgiu em mim, e que se autodestruiu aqui no meu peito. Sem aspas ou vírgulas, este é o ponto. Aqui é onde termina tudo, desde o ínicio desse romance por mim criado e ensaiado, até o fim daquilo que eu pensava ser amor...

terça-feira, 3 de março de 2009

Sobre Ser e Estar

Eu devo estar em algum tipo de encruzilhada armada, ou preso em alguma realidade alternativa. Isso soa vindo de um rebelde que necessita alegar suas razões para tal alcunha, mas não. Eu realmente não estou gostando dessa sensação. Sinto-me como se estivesse exalando gás carbônico em sua pureza - e não estou brincando com tal fala -, e como se meus ombros estivessem sendo carregados de mais fardo a cada passo. Não irei expor os fatos, mas sei que me sinto uma cobaia nesse momento. Não por me sentir usado e gasto pelos outros, de fato sinto isso vindo de mim á mim mesmo. E isso me destrói, de todas as maneiras que uma pessoa pode se sentir destruída. Se eu pudesse não dizer quaisquer uma dessas palavras, tenha certeza que eu não as diria. Eu não quero compartilhar com o mundo aquilo de ruim que eu sinto, a minha fragilidade, o meu sentimento de culpa e as minhas dores. Eu esperava viver e conviver melhor, mas a cada segundo quero apenas que algo se dissolva nas minhas equivocadas razões. Tornou-se já outro momento para mim. As pessoas são egoístas e isso lhe dá a oportunidade de pensar a respeito de ser ou não ser. Chega um momento que sem qualquer fingimento, você se dá a liberdade de ser. E então você decai, acreditando que o mundo gira ao seu redor. No entanto, esse não é mais o momento ideal de perder mais tanto tempo com tal aflição. Algum dia eu volto aqui e uso as palavras certas, só pra te convencer de que não importa o que você faça: as pessoas sempre tentarão te prender numa encruzilhada armada até você mudar seu modo de agir. Então é aí que eu paro silenciosamente, e mostro ao mundo, a razão certa de eu estar aqui.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Encontre-me nos teus Olhos

Isto tinha acabado de ser sentido como uma liberdade manifestada que rasgava meu peito e meu sorriso automático de todas as manhãs. Eu precisava estar lá, eu sabia o quanto meu destino esperava por isso. E, ao mesmo tempo em que eu colocava meus pés naquele obscuro carpete indiano, pude vê-la de lado, ao fundo. E ela permanecia quieta, calada - e frágil, a meu ver - como todas as outras vezes que eu já tinha a avistado; ela estava naquele canto como de costume. E eu sabia que aquele café já não era mais tão grande e movimentado para que eu pudesse não a reconhecer no meio de quem quer que fosse. Desse dia eu me lembraria bem, eu atrasara demais esse momento até que eu conseguisse só pensar em olhar em seus olhos. Não com o medo de ser rejeitado instantaneamente, mas porque eu me perdia mais e mais em tanta ostentação e divagação que eu fizera dela, de seus olhos, sentimentos, e sensibilidade; que até desconhecia qualquer reação que eu pudesse ter se ela realmente corresponde-se meus anseios. Eu a vangloriava até por causa do mesmo ar que tragávamos todas as manhãs desde que o inverno começara. 

E a mais pura verdade é que, desde o dia em que eu pude deixar algumas lágrimas rastejarem dolentemente em minha face, por conta de outra pessoa, que outrora eu encontrara e também me perdera, eu jamais ansiei encontrar novamente alguém que preenchesse o motivo que me induzia a levantar todos os dias me sentindo são e salvo. Talvez eu até chegasse a tentar entender o que isso significava, mas eu sabia o quanto doía. E eu sempre soube que apenas eu sabia. Mas parece que quando nós, miseráveis seres que colecionam dores, tentam extrair o mais verdadeiro de uma relação ou indagação amorosa é que flagelamos o que já não permanecia intacto. Quem pudera entender algo assim. E eu que sou tão jovem, já me sinto triunfante com a ausência do restante das pessoas. Sinto-me bem com a falta dos outros, com a falta das coisas, com a ânsia de querer algo e ter a possibilidade - mesmo que mínima - de arriscar. E não para conseguir, mas para ver até onde essa minha falta de medo pode me levar.

Sentado, eu continuava remotamente distante dali. Ela me levara mais alto, sem muita indagação, ou arma precisamente ajustável para tal artifício. Somente seus olhos e doçura labial me conquistaram. O modo como encarava a comida também parecia completar sua ingenuidade com que se relacionava com os elementos a volta, até a forma como mordia e que olhava para baixo. Talvez eu estivesse apenas apaixonado demais para não ver a falta de disciplina que nela residia, mas que importa? Eu apenas sei que querer é o que me empurra a querer mais, que me sufoca a querer mais, que me aproxima a querer mais. Porque eu também sei que durante muito tempo eu me recusei a tentar de novo, a reagir, a sentir e a me deixar sentir. Mas esqueçamos isso. O importante é que fui caminhando até ela, e eu sentia cada um de meus pesados passos. Em breve eu estaria em sua frente. E de tudo o que reagia em mim enquanto eu ia, eu me preocupava com meu coração que pulsava estonteante. Pronto, ali estava eu, diante de todos os meus medos, rejeições, devaneios e sentimentos. Eu que jamais acreditei em amor, eu que já me decepcionara jurando jamais tentar novamente, agora me encontrava sorrindo, de frente à minha salvadora. Àquela que me salvara à deriva do precipício interior. Ela me olhava atônita, sem que jamais soubesse que eu a avistava todos os dias. Ali estava ela, ordinária e cintilante. E eu a queria com todas as forças, mesmo sabendo que se ela jamais me quisesse, eu sairia dali, me sentindo completamente livre.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Dezesseis anos.

Em sete de fevereiro de mil novecentos e noventa e três, às doze e cinquenta e cinco eu dei meu primeiro suspiro nesse mundo. Dezesseis anos atrás... Nessa época, Tarantino já havia sido descoberto como um dos grandes cineastas dos EUA, Marilyn Monroe já havia sido encontrada morta, Kurt Cobain morreria no ano seguinte, Stanley Kubrick faria 63 anos, a Guerra Fria já havia terminado dois anos antes... Muita coisa o homem já havia passado e lutado na busca de descobrir sua origem e seu destino. Imagino que nesse mesmo dia, muitas pessoas também se foram. Apenas sei que vim ao mundo não apenas por conseqüência dos atos de papai ou mamãe, não por precisar ser mais um num mundo globalizado, mas para inquietar os valores convencionais humanos, para escrever sobre a busca, sobre a liberdade, sobre o medo e sobre o amor. Para de alguma forma, descobrir qual o chamado que Deus tem para mim aqui. Só sei que meu nascimento em si serviu para mostrar à mamãe que mesmo tendo sido uma gravidez indesejada, que mesmo sem papai saber da minha existência, mesmo com a pressão da família e difamação da sociedade sobre nós, um dia ela compreenderia que nada foi em vão. E que, por maiores que tenham se mostrado as dificuldades, jamais poderia compará-la com a maior expressão de amor que há no mundo: dar a vida à outra vida.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Noite, Chuva e Memórias

Essa era pra ter sido a noite mais ansiada dos dois últimos anos. E pela décima sexta vez você sabia que não aconteceria como outrora. A melodia do medo havia tomado conta de você, por completo, elemento por elemento; enquanto era tangível a lembrança de quando o sino da época do colegial começava a ecoar. Não que isso lhe causasse dor ou lhe envolvesse por puro embaraço, apenas não cabia a você entender porque aquela lembrança lhe parecia tão agradável. Ainda assim você soubera disfarçar, a agonia de jamais – em tempo algum – voltar atrás. Você ainda escutava vozes por de trás de ti, misturadas em cheiro, mochilas abertas, caminhadas acompanhadas de brisa e afagos. Você nesse momento podia sentir tudo isso de volta, mas não acompanhado dos mesmos olhares e indivíduos, somente com a melancolia que agora lhe faz melhor companhia. Então quando as primeiras gotas de chuva começaram a cair, enquanto se manifestava em ti a enlouquecida vontade de partir para longe da aflição e apenas permanecer quieto, você se atirou para fora de si. Havia decidido entre a antecipação e o medo caído na sua cama desarrumada, arrastado como uma coberta sob seu próprio corpo. E se indagando repetidas vezes se valia a pena esperar o próximo amanhã, ou a noite do próximo sábado. Limitando-se a pensar que toda sua felicidade poderia se consolidar novamente em apenas uma dessas noites não mais que almejadas, sendo que se assim, todo o resto de sua vida lhe teria sido até hoje completamente em vão.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Conto de Fardos

Não desisto fácil, entenda. Há certa dose de desprendimento em minhas palavras, porque não faço mais tanta questão de ser convincente. Sei que apenas quero experimentar algumas pessoas e depois fim. Não ajo assim pretendendo usá-las, nem por intenção própria satisfazer-me, não é sobre carne. É algo mais. Caso eu definisse eu me limitaria a dizer que espero isso a vida toda, sim, apenas experimentar. Não é sobre ficar, não se trata de uma noite. Trata-se de calor humano, cabelos à brisa, conversa e um bom cheiro. Talvez nunca aconteça, mas tudo bem. Isso trata apenas dos meus devaneios e partidas. Quero carregar o fardo de te querer até o instante em que conseguir unir minha mão a sua. Sei que em parte é isso mesmo que quero. Não por estar esperando isso durante toda minha existência, não porque sou paciente, mas sim porque sou romancista. E me atrai contar sobre meu próprio romance, aquele que vivo e falsifico cartas destinadas de você a mim. Sei que está aí. Está apenas analisando minhas próximas palavras até que eu decaia e teu silêncio se torne o nosso silêncio. Mas vou-me embora antes que as palavras faltem. Vou-me embora para dentro de ti, conhecer mais tuas emoções. Se é que delas ainda existe, porque percebo o quanto, a cada dia, teu maior desafio se torna vivenciá-las – ou corresponde-las. Estou me perdendo em você, se é que percebe. Como se eu estivesse começado a falar de mim e você fosse parte dessa conversa. Nosso olhar não se encaixou, ainda. Nossa vista não foi preenchida por cada um de nossos semblantes, ainda. Mas me espere. E não entenda isso como uma promessa, sim como mais um desafio. Pois se existe um bom tempo que não sei onde colocar meus pés, então é porque perdi minhas razões desde o dia em que descobri tua existência. Tocou-me de tal modo: estranho, peculiar, diríamos você e eu. Não sei se trata de amor e alma ou corpo e satisfação. Só sei que você continuará por aí... E assim que pronto eu estiver, endereçarei uma última carta a mim, dizendo através de suas palavras, que em breve nossas mãos irão se tocar. Fim.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Esta é a Sua Única Vida

Em relação aos sonhos alheios, me sinto instigado a entoar sobre a melodia da perda. É o que me atormenta ao comprovar como as pessoas deixam facilmente seus sonhos de lado à medida que crescem. E crescer em uma cidade conservadora do interior, onde as pessoas são formadas como arquétipos da sociedade tradicional, pessoas que passam a vida toda se enganando com a felicidade ressentida, jamais sentida; pessoas que se casam por pressão e que se graduam num curso que a família tenha decidido, é dissimulação exacerbada. Tem gente que passa a vida toda vivendo pelos outros, e se perdem. Fingimento esse que faz parte do currículo habitacional de qualquer cidadão deste mundo. Mas não para alguns. Existem os que nasceram para mudar a ordem, que são completamente diferentes dos meios em que foram criados. Aqueles que até chegaram a pensar em desistir, mas que lutaram, perseveraram, não ligaram para o que a vizinha ou o pedestre pensava enquanto se encaminhava em direção aos seus sonhos, felizes.

Francamente, eu não ligo em nada para o que pensam quando eu estou na rua caminhando e entoando melodias, entenda: cantando. Mas como disse, eu não sou o fruto do meio em que fui criado. Na verdade, até meus familiares sabem que eu não sou como eles. Não faço o tipo de pessoa que irá engravidar a amiga do colegial ou morar na casa dos pais até que se case. Não sou e não quero isso pra mim. Arriscar-me-ei em buscar do que Deus quis para mim enquanto me criava, conforme tua imagem e semelhança. Eu vou sair por esse mundo, confiarei e acreditarei no meu Criador e comerei o melhor desta terra. Para alguns estou sendo clichê quando cito Deus em minhas palavras, mas afinal, eu não ligo. E você devia saber que ele existe e que ele quem me faz tão feliz e sonhador.

Às vezes concluo que a sociedade e a família pressionam as pessoas a buscarem algo mais sólido para suas vidas futuras. Que proclamam que os concursos federais são blábláblá e tudo aquilo que pode te deixar preso num lugar, fazendo o trabalho burocrático para construir sua vidinha padronizada. E eu, um cara de quinze anos, não quero que me vejam como o rebelde. Não quero que acreditem que isso tudo que se passa pela minha cabeça faz parte de alguma fase que vivo, talvez da adolescência. Porque eu tenho plena consciência do que existe nesse mundo e sei que vida, eu só terei essa. Não vou querer passar anos da minha vida em vão, me divertindo em festas ou saindo com amigos para o barzinho. Não quero e não vou transar com quem eu não ame e não me case. Não vou ser a tendência do momento e nem desistir do chamado que Deus tem pra mim. Não vou culpar ao Diabo por tudo aquilo que eu não conseguir, mas vou lutar até provar que foi Deus, O Altíssimo quem me possibilitou chegar até lá. Não importa o quanto há pessoas ruins espalhadas por esse mundo, eu sou a diferença e sei que não estou sozinho. Pois afinal, não vou cair na ilusão de acreditar que posso mudar todo o mundo, apenas sei que as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que realmente o mudam.

Recomendo:
Nunca Desista dos Seus Sonhos – Augusto Cury
A Lição Final – Randy Pausch

"Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam." - Jack Kerouac

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Amor e Alma

 A minha geração está sentada em um banco de praça. Vários deles estão ali, tratando de seus assuntos pendentes e daquilo que convém para suas noites de liberdade afora. Mas eu conheço estas pessoas, eu sei que sensação elas têm quando chegam em casa e se deparam com a mesma coisa que deixaram na noite passada, no final de semana que se foi e de tudo aquilo que continua do mesmo jeito que deixaram. Eu escuto essa melodia há tempos pra saber o bastante. Pra compreender que a maioria está a espera de algo que preencha o vazio que sentem.

 E a culpa disto acontecer e escondermos, está no mesmo lugar que sempre esteve. No vácuo. Na inexistência. Pois não existe. A verdade é que não há culpa. Há lacunas que foram se formando enquanto estas pessoas perdiam suas noites, perdiam suas palavras, perdiam sua nudez e sensatez. Perdiam a memória na embriaguez, perdiam enquanto tentavam ganhar sorrisos falsos para si, enquanto beijavam o maior número de pessoas que podiam e se enganavam com a felicidade momentânea que tudo ao redor lhes proporcionava. Tudo perdido para simplesmente tentarem chegar à um “amor”, uma alusão à felicidade. Aquele “amor” avassalador que chegaria à cavalo, e que lhe roubaria toda a dor, aquele que lhe levaria até o alto da maior montanha existente e então ali beijariam e jurariam amor eterno.

 Esse amor é o que eu não acredito. Pois se amassemos assim, de verdade, não esperaríamos nenhum segundo até que fizéssemos tudo aquilo que esperamos a vida toda para que alguém viesse e fizesse á nós. Essa é a espera que poderia acontecer a vida toda e só acabar no último instante que inspirássemos. E nisso, não há liberdade alguma. Às vezes todos têm vontade de desaparecer, de realmente amar e ser amado, de encontrar alguém para se perder, e principalmente alguém para que possam dizer o velho e inevitável Eu te Amo. O que resta não é esperar, não é correr atrás, nem nada assim. Resta escutar o coração pulsar e ir adiante através da monção, seja para amar aqueles que se têm, ou para encarar a dor de jamais ter encontrado aquela pessoa.

Final Alternativo:
 Esse amor é o que eu não acredito. Pois se amassemos assim, de verdade, não esperaríamos nenhum segundo até que fizéssemos tudo aquilo que esperamos a vida toda para que alguém viesse e fizesse á nós. Essa é a espera que poderia acontecer a vida toda e só acabar no último instante que inspirássemos. E nisso, não há liberdade alguma. Não há nada além daquilo que conseguimos ver, sentir e pensar sobre. Mas há alguém que te esperou a vida toda para que quando você lesse isso daqui, você soubesse que não está sozinho em suas madrugadas de prantos. Para que você soubesse que há alguém que lutou por te amar e que morreu para você. E principalmente, para que você soubesse que não está sozinho quando sentir que precisa de encontrar alguém para viver ao seu lado, durante toda a sua vida.
 PS: Esse alguém só está a sua espera, aguardando pacientemente sua mudança.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O Encontro

 A luta não havia se cessado, a melancolia podia restar, e ainda assim havia algo que preenchera parte daquele olhar caído. E ocupara sua mente eloqüente. Sem nem perceber seu modo de agir já era outro. Tudo se movia e ele permanecia leve. Continuava convivendo naturalmente com as pessoas ao redor, tinha uma vida sociável. Nada parecia ter mudado. Tinha tudo enquanto abrira a porta de casa. Naquela tarde, entrara alguém que jamais sairia da mesma maneira que entrara. Enquanto trancava a porta, já não tinha mais nada. Não queria mais, não era feliz. Decidira recomeçar. Poderia de fato, deixar tudo para trás, mas iria atrás daquilo que lhe fizera feliz ao menos por um instante em toda sua vida. Escolhera mudar o caminho, escolhera tentar de outra forma, escolhera a melhor escolha. Sabia que deixara pra trás um mundo que o havia acolhido, sabia que não poderia voltar. Seria tarde. As apostas estavam encerradas. E sua vida é que estava em jogo. Partiria para nunca mais voltar a estar lá, ou a ser quem fora. Estaria até o fim de seus dias aprisionado ao que tinha decidido para si, e se fossemos ver, isso nada a ver tem com aprisionamento, mas soa essencialmente como liberdade. Agora ele era livre, para ir e vir aonde fosse. Ser e não ser. Estar e não permanecer. E ainda que conseguisse se sobressair em teu intento, aventurar-se-ia até descobrir de fato o que seria a tal da felicidade. Afinal, não habitava em si o medo de tentar. Habitava em si apenas o medo de permanecer. E conseguira...