quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Estação (Perché non parlo?)

Quem sabe se eu não estivesse procurando por um lugar no mundo, eu encontrasse um lugar em mim. Somente não estive inteiramente despedaçado, embora eu tenha me quebrado a cada passo feito; também não estive cego, embora eu tenha olhado para mim e não me enxergado ali. Esperei durante tanto tempo naquela estação que lembrei de mim só quando a minha existência já não significava mais nada em qualquer outro lugar.

Houve algo de tão extraordinário naquilo que eu sentia dentro de mim que dezesseis anos da minha vida poderiam ter sido anulados em razão de apenas esse. Abrir os olhos outra vez era como abri-los pela primeira vez. Essa não era a melodia do tempo que corria contra nós, era sobre passar por si mesmo e atravessar a rua como desconhecido um para o outro. Se não me encontrasse a tempo, poderia morrer nos braços de qualquer outrem, ainda que minha alma fosse um fardo para quem quer que não fosse eu.

 Entre voltar correndo para meus braços ou voltar caminhando quieto, o que mais importa é apenas voltar. Se aos poucos consigo reestabelecer meus passos, não é que eu queira repeti-los, embora eu queira concertá-los antes de chamá-los de passado. Se me calo por fora, adoeço, se me calo por dentro, morro. E se por trás de nove meses do mais anestésico silêncio a felicidade não me encontrou, o amor me fugiu as mãos e a vontade de pertencer a mim me trouxe de volta, é porque só agora eu consigo voltar a falar.

3 comentários:

Marcos Siqueira disse...

Muito bonito.

Nilson Vellazquez disse...

"E se por trás de nove meses do mais anestésico silêncio a felicidade não me encontrou, o amor me fugiu as mãos e a vontade de pertencer a mim me trouxe de volta, é porque só agora eu consigo voltar a falar."

Fantástico isso!

DL3 disse...

http://dl3mashael.blogspot.com/2011/01/beautiful-voice-voice-of-tortured.html