terça-feira, 3 de maio de 2011

A Poesia aos Dezoito

“A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.” Marina Colasanti
Nesse grande estrago de promessas desfeitas o vazio começa a vazar. Surge uma troca de olhares que não mais se disfarça e um toque que não mais teme em se aproximar. E entre ambos, uma batida de coração que vai se acelerando. Tudo começa a dar lugar à chance de acontecer como numa primeira vez. Potencialmente, tudo volta a ser um risco. Não que tudo importe. Essencialmente, sentir pela primeira vez é sentir. O resto é se acostumar a sentir. Mas quando se acostuma, se perde a essência, se perde o risco, se perde o sentimento.

Assim como havia um ser em mim que costumava sentir, hoje há um que se acostumou a sentir. E não foi o tempo que me preencheu de vazio, foi eu que me deixei ser preenchido. Eu podia ter aceitado a rejeição, eu podia ter colecionado feridas abertas, eu podia ter negado todos os sentimentos recíprocos e eu podia até mesmo ter me deixado sem nada só para me sentir preenchido de nada. E eu fiz. O tempo apenas não parou. Eu parei. Parei principalmente de viver esperando ser feliz através de sentimentos. Afinal, todo aquele que ama e é amado é feliz? Porque eu não ando amando, nem sendo amado, nem ando armado. Há muito tempo troquei esse tal do amor pela tal das palavras. Só que se brinco com as palavras, dizem que é pela falta de amor. Se não brinco, nem notam que eu existo.

Sou um poeta que desaprendeu a amar. Me acostumei a trocar sentimentos por uma dose a mais de vazio. Embora às vezes, só se perceba que se tomou veneno prestes a morrer. Só que para não sofrer, se prefere o vazio de um amor não entregue do que a dor de um coração partido entregue de volta.
Mas reconheço que para ter chegado até aqui, um sentimento tem me tentado. Porque eis aqui um coração que começou a ser aberto desde a primeira linha. Eis aqui um grande passo dado para que, ainda que, no meio de um grande estrago de promessas desfeitas o vazio começasse a esvaziar. Até porque também há algo estranho que estou começando a sentir, e eu ainda não faço idéia do que seja...

3 comentários:

Owl disse...

Antes o vazio à possibilidade de tristeza; antes a solidão à uma companhia passageira; antes se fechar do que se abrir e ser descoberto; antes poeta do que amante. Não mais fácil nem menos difícil. Tem sido minhas escolhas assim como parecem estar sendo as suas. Mas nos resta saber, afinal, se mais vale a ponta de um precipício ou o seu destino final ;)

Nilson Vellazquez disse...

E ao coração que teima em bater...avisa que é de se entregar..

luiz gustavo disse...

céu de vidro


o tempo me (ex)pulsou
a vida inteira
e mudo estou
para explodir em versos
ao vento ligeiro

não quero o céu profundo
dentro em mim mas o que inflama
toda a poesia que arde em chamas

um jardim para meu fim:
rumores de asas flores pássaros
sobre todas as cinzas

pedras sobre a terra
pela última vez dispostas
nos poros desatados deste corpo

por trás dos sonhos
sinto-me leve de meus pulsos
que gritam toda a nódoa do mundo

quem quiser saber o que fui
afogue-se em meus poemas

nesta manhã desventrada dos céus - o silêncio -
ouço apenas o silêncio

o tempo é escasso
e quando o sol se pôr
estarei livre dos sonhos
de meus versos guardados

tudo se esvai - até a dor do poema -

a cova arde
como um inferno de dante
ah ! dirão: covarde

e por toda (p)arte
o meu amor é preciso

agora um f(r)io denso me invade

e por toda parte
é o meu amor preciso

- quero inventar um poema:

um vento de seda -
borboletas abanam as asas
no silêncio cristalino

meus versos inflamarão
em todas constelações
nacos da minha alma

crepúsculo –
após uma vida curta
a noite se alonga...