quarta-feira, 9 de julho de 2008

Um Desconhecido

Certa vez, minha mãe me deixou na casa de um desconhecido. Desconhecido apenas para mim. Por mim tudo bem, minha mãe sempre foi "freneticamente estranha". Ela me deixou com esse cara usando o pretexto de que esse antigo amigo dela me levaria para a igreja. Ambiente no qual me agradava muito ir na época em que eu e ela íamos todos os dias. Mas enfim, o desconhecido começou a se interessar pela minha vida, de forma estranha para uma criança como eu. O que ele quer de mim? Tudo podia passar pela minha cabeça, menos uma coisa. Menos uma única coisa...

Os dias foram se passando até que os meus laços com esse novo amigo, agora menos desconhecido, foram se formando. Até que ele me levou junto para a fazenda do seu tio. Eu nunca fui muito assíduo em fazendas, preferia me manter bem distante. Mas eu fui, não lembro por qual razão. Só sei que eu podia me ver lá. Talvez eu tivesse me entregado ao que antes eu julgava de forma equivocada.

Depois dessa viagem, voltamos para a cidade. Algumas semanas se passaram até que, ao sair do banheiro logo após tomar banho, vejo o desconhecido no sofá da sala com um envelope em mãos, na minha casa, ao lado da minha avó e minha mãe. Eu desconhecia as razões, era necessário não me sucumbir. O que era aquilo? Me vesti e fui chamado para a tal reunião. Não me lembro o que minha avó disse, não me lembro o que minha mãe ou até o que o novo amigo disseram. Não me lembro quais foram as palavras ou se tiveram algo a dizer, antes que eu descobrisse que o desconhecido que havia conhecido a pouco era simplesmente meu pai.

A partir daí, tudo aconteceu muito rápido, minha vida passou diante dos meus olhos e estalou. Precisei de alguns meses até conseguir entender quem ele era pra mim agora. Precisei de tempo até que conseguisse chamá-lo de pai. Até que, consegui. Não pareceu tão difícil. Tínhamos fé de que pudéssemos recuperar o tempo perdido. Tínhamos esperança. E como eu já disse pra vocês, medo e esperança andam juntos. Correndo ou caminhando lentamente estão por aí, dentro de quem quiser esperar uma nova porta se abrir sem que tenha a coragem de ir até esta e puxar a maçaneta.
Hoje em dia, eu tenho chorado por ele, ou melhor, por nós dois. Depois que ele me conheceu, toda sua vida também mudou. Não só por minha causa. Alguns meses depois de sabermos da existência significativa da vida um do outro, uma desconhecida entrou em sua vida e eles tiveram uma filha. Eles se casaram por causa da garota, pelo medo que meu pai tinha e tem da desconhecida tirar sua filha de perto dele. E penso eu, eles não se amam. Como são da igreja, vão terminar suas vidas casados. Casados, ou acorrentados, como preferirem chamar. Eu choro pelo meu pai, eu choro quando ninguém pode me ver. Eu choro muito quando penso que, mesmo morando na mesma casa e nos conhecermos há cinco anos, ainda somos desconhecidos um para o outro.

8 comentários:

Anônimo disse...

eu acho que esse texto só não é melhro do que o destinatário desconhecido.
mtmtmtmt bom :D eu não conseguiria me expressar tão bem sobre algo tão intimo assim (: ficou ótimo.

Igor Palhares disse...

Talvez por eu ter vivenciado tudo isso perto demais.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Whatever. disse...

texto & argumentos completos, convincentes. ou melhor, PROFUNDO.

Unknown disse...

Parabéns! Gosto de como vc se manipula pra dizer o q parece inexprimivel =) Mesmo q ironicamente, quem quer sente sua espontaneidade!
Continue escrevendo...Continuo lendo

Unknown disse...

nossa gostei muito, voce soube demostrar o que você sente, e o que muitas pessoas sentem também e passam por isso também..
parabéns, e nunca pare de escrever *o*

:*

Bárbara Lemos disse...

Muito sentimento no texto, moço. Gostei.

Posso só dar uma opinião? Evita repetir tanto as palavras ou explicar as coisas, pressuponha que já entendemos e, se não entendermos, deixe a coisa jogada no ar.

Enfim, só uma opinião boba.

Gostei do seu canto.
Beijo meu.

Nilson Vellazquez disse...

O duro é saber que existem pessoas que passam a vida toda sendo desconhecidas para as outras...