quarta-feira, 30 de julho de 2008

21 dias atrás

Não posso mais olhar para trás. Você vai compreender minhas razões. Não estou buscando entender ou encarar qual foi o plano de Deus pra mim, nem se realmente houve um plano de Deus pra mim. Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas. Eu duvido muito. Sequer acredito que Deus escreva. Eu escrevo para me manter lúcido, mesmo que pra mim agora, lucidez seja o que menos importa. Escrevo para mudar o que há de errado no mundo, e principalmente, nas pessoas que podem mudá-lo. Escrevo pra provar minha própria existência. Deus não precisa de nada disso, isso acaba se tornando desejos mundanos em demasia. Eu que almejava ser muito bom, por causa disso não pude ser melhor.

Percebi que muitas coisas mudaram ao meu redor, muitas pessoas mudaram muitas coisas. Acredito que por onde eu estive deixei o necessário, acredito que consegui colorir fotografias cinzas. Talvez a cor não fique por muito tempo, mas, a minha vitória não estava em conseguir, e sim, em tentar. O meu temor não era o de guerrear, mas, temer em não ir á guerra. Eu acreditei tanto numa vida melhor que acabei não tendo como socorrer a minha. Sabe, eu e você... Não, não você. Mas, você e eu contamos as melhores mentiras e fingimos acreditar nelas. Tomamos caminhos distintos, e talvez nesse seu caminho, você tenha pegado uma carona e não tenha me esperado como o combinado. Acreditamos em nossas próprias mentiras, fomos culpados por um crime que nós mesmos cometemos e denunciamos. Eu não tenho pena de você, eu não sinto saudades suas, eu não sinto rancor, eu não sinto desejo, eu não te amo... Eu não te sinto. Não mais. Reparação.

Sobre dar valor, o que é valor? Afinal, atribuímos um valor a uma pessoa quando ela está ao nosso lado e sabemos que ela vai estar constantemente ao nosso redor. Mas e quando descobrimos que ela nunca mais vai estar? Que nunca mais poderemos olhar nos olhos dela e nem mesmo dizer algo que decepcione? Algo que realmente não valha a pena ser dito, uma asneira qualquer, alguma coisa que nos perca em nós mesmos ou até um 'eu te amo' singelo e redimido pra terminar o fim de tarde? Dar valor... Nunca me ensinaram a ser grato. E eu aprendi da forma mais difícil. É, talvez eu tivesse razão. Ou não.

Porque aquela foi a última vez em toda nossa vida que nos olharíamos. 21 dias, após todo o restante. Aquela foi a última vez que nosso olhar se cruzou e nossa boca se entorpeceu para dizer somente um simples 'tchau'. Não se chateie comigo, eu não estava te evitando, eu não estava querendo que você não viesse até mim. Eu não sabia que quando eu pusesse meus pés para fora dali, eu jamais te veria novamente. Ou veria qualquer outra pessoa. Eu nunca cheguei a pensar que você derramaria suas lágrimas por mim, assim que eu estivesse definitivamente... morto.

– A sensação é boa, não?
– Eu não sinto nada.

The Hitcher, 2007.

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu consigo sentir a profundidade da pessoa que escreveu esse texto a distancia... Adorei mesmo Igs (L)

Pato disse...

these are the 21 things that I want in a lover, not necessarily needs but qualities that I prefer.

Nilson Vellazquez disse...

o mais triste é saber que o carretel da linha não se enrola novamente com facilidade

Bárbara Lemos disse...

O que foi quebrado não se monta perfeitamente mais uma vez. É isso...
Gostei desse, moço.


Beijo meu.

Luara Quaresma disse...

Seus textos matam minha solidão, suas palavras me acompanham *.*

Igor Palhares disse...

A distância não machuca, fortalece...
Fácil é não se enrolar...
Quebrado e reconcertado...

Solidão que machuca e quebra,
distância que enrola e fortalece. ♥

OBRIGADO pelos COMENTÁRIOS! :D

Anônimo disse...

sério, meus comentários sao os mais toscos perto dos outros. HAHA

mas eu gostei dessa parte "Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas. Eu duvido muito. Sequer acredito que Deus escreva."
acredito nisso.
nós somos as marionetes de Deus. Deus? -q