sábado, 18 de abril de 2009

Introspecto

Ele se sentia congestionado. Asfixiado não pelas emoções aprisionadas no peito ou paralelas às tensões não expulsadas da cabeça, mas à deriva da sua capacidade de controlar seus sentimentos e cansado de carregar a si mesmo durante tanto tempo. Não estava conseguindo andar nem livre quanto menos levemente, nem disposto a mudar mais uma vez. Talvez não houvesse mais espaço para ele dentro de si mesmo. Sentia-se desolado, amava-se mas não correspondia-se, não da forma como pudesse sentir-se salvo ou livre. E sempre esteve à procura disso, do intangível, talvez intocável, mas pura e completamente essencial. Enquanto caminhava, sussurrava alguma coisa, e olhava para algumas pessoas, não à procura de algum olhar que cruzasse com o seu, mas apenas analisando o desinteresse recíproco que cada olhar transbordava. Fosse naquela rua ou no restante do mundo. Mais uma vez, era apenas isso que anotaria no velho caderno que escrevia sobre sua vida em todas as noites que não conseguia controlar o peso da alma. E o crucial também era o que latejava em sua cabeça, o fazendo reviver velhas histórias das quais lembrava ter sido ora ou outra realmente feliz. E através disso, logo vinham sacrifícios, alternativas, gestos fora do comum para não perder os momentos em que podia ser feliz, aproveitando a intensidade e não a duração. E não importava quem estava ao seu lado, ainda havia os sorrisos que vinham como videoteipe. Tudo começava do medo, do resto, da falha. Abatido e equivocado, sua existência era marcada pela desilusão na busca de si mesmo, na compreensão do novo, e talvez à procura de quem fora algum dia. Porque o sol nasce para todos, mas nem todos precisam de luz, apenas uma incidência para que seja visível isto. E isto, era o que passava por sua cabeça. Mesmo que os olhos não possam conter uma lágrima, e se ludibriar seja a escapatória, ele compreendia as razões de não ser como qualquer um. Estava dentro demais, fora demais, qualquer coisa que subisse qualquer grau de limite. Estava no limite de si mesmo. Não no auge, porém no culminante. Pouco a pouco para encontrar qualquer coisa que não precisasse ter, e ser era demais para se completar. Naquele velho caderno, na última pagina, acabara de escrever algo. Encontrar a si é o mesmo que ser feliz. Fechou os olhos e sorriu estranhamente. 

2 comentários:

Duda de Oliveira disse...

"(...) Sobre o pico agudíssimo de um penedo, onde um pequeno toque exterior ou a mais leve vacilação interna seriam suficientes para arrojá-lo no abismo." (HESSE, 1927. p. 53.)

*HESSE, Hermann. O Lobo da Estepe.
[Essa é pra treinar as regras de citação e referência que eu tô estudando, ok?]

E eu nem tenho o que dizer. (:

Anônimo disse...

Hm. Muito legal o que escreveu.

Irei favoritar seu blog. Abraços ;*